Apesar da derrota na estreia, titular das Super Águias desde 2002 para o melhor do mundo e troca o anonimato do futebol israelense pelos holofotes

Mesmo que não faça mais nada na Copa do Mundo da África do Sul, o goleiro Vincent Enyeama, da Nigéria, já tem uma boa história para contar para os netos. Na derrota das Super Águias para a Argentina, por 1 a 0, o camisa 1 da seleção africana foi o único que esteve à altura do craque Lionel Messi e personificou o pássaro-símbolo de sua equipe em verdadeiros voos para alcançar os chutes colocados da maior promessa da competição, que - em tarde inspirada – teve que se resignar com o gol único do zagueiro Heinze.

Foram pelo menos quatro lances em que o herdeiro da 10 de Maradona poderia ter balançado as redes, mas acabou parado pelo homem de amarelo, que saiu de campo eleito pela Fifa como melhor do jogo e foi transportado do anonimato do futebol israelense para a 25ª posição entre os termos mais procurados no Google, após a partida. E se o relato parecer exagerado, Enyeama pode sempre apresentar o testemunho do próprio rival.
- O goleiro estava um fenômeno – admitiu ninguém menos que Messi.

O treinador dos "hermanos também se rendeu.

- Temos que parabenizar o goleiro, que pegou umas três ou quatro bolas difíceis. Ele fez uma partida excepcional – disse Dieguito.
Ao fim do jogo, Enyeama contou como se preparou para o embate com o craque argentino.
- Vi muitos jogos ele, estudei por muito tempo. Coletei um pouco de boas informações dele antes da partida - revelou.

Esta não foi a primeira vez que o goleiro, que completará 28 anos em agosto, atuou em um Mundial. Reserva de Ike Shorunmu em 2002, ele chegou a entrar em campo no empate em 0 a 0 com a Inglaterra e retornou à Copa com os nigerianos em 2010, depois que a equipe ficou fora da competição em 2006.
- Ele é sempre assim. Muito bom goleiro. Em 2002, no último jogo, contra a Inglaterra, foi muito bem também. Desde então ele é o titular. Sem dúvida, é o melhor goleiro africano. Ele pode jogar em qualquer liga do mundo, no melhor time do mundo. É calmo, e quase invencível no ‘um contra um’. Vocês viram isso hoje – disse Ben Memuletiwon, repórter do jornal “Sportsday”, que participa da cobertura da Copa.


Titular absoluto do Hapoel Tel Aviv, de Israel, onde foi eleito o melhor jogador da liga nacional na última temporada, o guarda-metas começou sua carreira como profissional no Enyimba International, da Nigéria, onde foi campeão africano duas vezes (2003 e 2004). Lá convivia com uma incômoda fama: era substituído sempre que uma partida precisava ser decidida nos pênaltis. Mas o jogo virou. Em 2006, o duelo contra a Tunísia, pelas quartas de final da Copa Africana das Nações, foi para as penalidades máximas e, com três defesas, Enyeama saiu como herói da classificação nigeriana.

Na edição deste ano do torneio continental, foi pioneiro. Foi o primeiro goleiro alertar sobre os perigos da hoje tão mal-falada Jabulani, a bola da Copa.
- Não nos acostumamos à nova bola, embora tenhamos treinado com ela por algum tempo. Ela é muito veloz, e, por conta disso, muitas vezes é difícil julgar sua trajetória – disse, em janeiro.

Casado, e pai de dois filhos, Enyeama escapou por pouco de um episódio dramático, em 2009. O goleiro foi passar férias com a família na Nigéria e teve a casa invadida por homens que, supostamente, planejavam sequestrá-lo. Mas a volta para Israel um dia antes, por conta da pré-temporada de seu clube, livrou o atleta do perigo.

A seleção da Nigéria vai mal dos pés, e muitos desconfiam de que o time sequer avançará às oitavas de final. Mas, se depender das mãos de Vincent Enyeama, a Copa do Mundo só começou.