Posted by gb | Posted in | Posted on 01:10
Grave lesão óssea abriu caminho para apoiador no profissional. Sonho de ser jogador o motivou desde a infância
Favela, pobreza e distância de casa nos primeiros passos. A história delicada, mas corriqueira, da maioria dos jogadores convocados por Dunga para a Copa do Mundo da África do Sul não é compartilhada por Kaká, a maior estrela da companhia. O pai, Bosco Izacson, fez o papel normalmente desempenhado pelos jogadores. Saiu de uma família pobre, trabalhou, suou e propiciou ao filho famoso e seus irmãos um padrão de vida confortável na infância.O jogador do Real Madrid nasceu em Brasília, passou por Cuiabá, mas fixou-se em São Paulo. Quase vizinho ao Morumbi, não tinha dificuldade para ir aos treinos. E ainda tinha a companhia da mãe Simone, uma cinegrafista bem amadora.
- A cada gol meu a imagem tremia porque ela pulava para comemorar. Eu me destacava naquela época, mas aos poucos aperfeiçoei o meu dom – divertiu-se Kaká.
Kaká, camisa 10 da seleção brasileira, é o responsável pela armação das jogadas
- Não sofri qualquer tipo de preconceito por vir de classe média. Eu levava os colegas para a minha casa e isso fez com que as pessoas me tratassem com respeito. Meu sonho de jogar futebol falou mais alto do que qualquer tipo de classe social – afirmou o jogador.
Kaká no treino do São Paulo
- Fui ao hospital reclamando de dores no pescoço e não deu nada. Então, voltei a treinar no São Paulo, mas continuou doendo muito. Voltei ao médico e ele disse: “Tenho uma notícia forte. Você vai ter que conviver com uma fratura na sexta vértebra”. Perguntei se poderia jogar futebol. Ele avisou que não dava para garantir. Fiquei dois meses com colar cervical – disse.
Tombo transforma-se na primeira chance
Entretanto, surpreendentemente, a angústia transformou-se no início da vitoriosa carreira. Em janeiro de 2001, o técnico Vadão solicitou que alguns juniores fossem promovidos para compor o elenco. O treinador do time sub-20 indicou um reserva que se recuperava de lesão: Kaká.
- E aí logo depois teve aquele jogo (São Paulo 2 a 1 Botafogo, com dois gols dele) – disse.
Kaká na infância com a prancha de bodyboarding
- Tinha um senhor ao meu lado que ficou bravo quando o Kaká entrou e falou: “Uma criança em campo? Estamos perdendo (1 a 0 para o Botafogo) e colocam uma criança?”. Dei só uma olhada. Depois do primeiro gol, falei: “Mas que criança levada!”. Quinze minutos depois veio o outro gol: “Que criança! Queria essa para mim”. Depois o senhor me abraçou e pediu desculpa – disse a avó.
O primeiro passo era a realização do objetivo fixo de ser jogador. Para isso, Kaká conta que até se dedicava aos estudos com mais afinco:
Tenho os meus valores, minhas convicções e isso é inegociável "
Kaká
Só que o episódio da fratura na vértebra não foi o único que colocou um ponto de interrogação no futuro do menino Ricardo. Até os 15 anos ele sofria com um atraso na formação óssea. O problema o fez até mudar de posição e perder a vaga no time.
- Para um garoto faz muita diferença. Os treinadores que tive diziam que eu era pequeno e não aguentaria muita pancada. Um deles falou que não tinha mais como jogar como atacante e me recuou para criar jogadas. Só que isso demorou, comecei a ser cortado. Sempre por questão física e não técnica. Foi uma fase muito importante da minha vida. Com 15, 16 anos tive a época do “estirão” e o São Paulo fez trabalho comigo de natação, suplementos, musculação... Agradeço muito ao que o clube fez comigo – disse.
Kaká troca aliança com Carolina Celico, uma das duas namoradas que teve
Na última temporada trocou a Itália pela Espanha. O destino: o Real Madrid. As cifras beiraram os R$ 180 milhões.
- Ele ama o futebol, que é a vida dele, e não faz nada por interesse financeiro. Ele ama o que faz, o clube que joga. O Kaká não sairia do Milan se não fosse necessário, mas foi muito feliz para o Real porque é o clube que almejava – disse avó Laura.
Menino família
A vida de boleiro também não se encaixa no estereótipo. Noitadas? Só para jantar, garante a avó. Mulheres? Só duas namoradas – uma delas a esposa atual, Caroline. Álcool? Sem chance. Kaká vive em um mundo quase singular dentro da rede de polêmicas do futebol.
- O respeito é fundamental. Aceito as escolhas e gosto que façam o mesmo com as minhas. Tenho os meus valores, minhas convicções e isso é inegociável. Muitas vezes ocorrem brincadeiras, mas sempre com respeito – disse.
Kaká na melhor fase da carreira com a camisa do Milan
- O homem mais bonito que já vi. Vai perguntar isso para mim? Além da beleza física, a interior é muito linda. Um menino iInteligente, educado, fino... Do Kaká nunca se houve falar nada de ruim.
Kaká terá a terceira Copa do Mundo pela frente. Na primeira, era uma jovem promessa. Disputou cinco minutos da partida contra a Costa Rica, ficou exultante e terminou a decisão contra a Alemanha à beira do campo, à espera de uma substituição que o apito final não permitiu. Nada que impedisse a felicidade pelo título mundial.
Estou me preparando de forma especial para esta Copa"
Kaká
Em 2006, a frustração. O início foi fulgurante com o golaço na vitória por 1 a 0 sobre a Croácia. Mas o quarteto mágico, que tinha ainda Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo, fez uma Copa opaca. A sombra da falta de comprometimento, que excluiu Kaká, derrubou a equipe nas quartas de final contra a França.
Mas há uma nova chance de final feliz. O xodó da dona Vera é o principal nome da seleção que está na África do Sul. Recupera-se de lesões que o atrapalharam na primeira temporada na Espanha. Recebeu críticas contundentes, mas colheu motivação suficiente para dar a volta por cima no torneio mais importante do futebol.
- Estou me preparando de forma especial para esta Copa e os meus companheiros também – disse Kaká.
O resultado do esforço será conferido a partir do dia 15 de junho, data da estreia brasileira na Copa contra a Coreia do Norte, em Joanesburgo.
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